quarta-feira, 25 de setembro de 2013

III Mostra da Educação Ambiental da Rede Estadual de Ensino - 24 de setembro de 2013

Professora Mary Anne Teles e os estudantes Gabriela Sarmanho e Alexandre Cunha



Professores Mary Anne Teles, Paulo Barros e os estudantes Gabriela Sarmanho e Alexandre Cunha









quinta-feira, 19 de setembro de 2013

E.E.E.P. MARIA JOSÉ MEDEIROS

III MOSTRA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DA REDE ESTADUAL DE ENSINO

SUSTENTABILIDADE NA ESCOLA: O DEVER DE CADA UM

Estudantes: Alexandre da Cunha Pereira &  Gabriela Cardoso Sarmanho
Professor Orientador: Paulo Sérgio Barros

Introdução

Um dos temas mais pertinentes no âmbito da educação é como criar e manter relações sustentáveis entre os sujeitos que constituem uma instituição educacional e fazer dessa prática uma vivência cotidiana que vá além das dimensões físicas da escola e se torne uma experiência comunitária, social e planetária. A escola é um locus essencial para formação de indivíduos conscientes e responsáveis. Portanto, um aprendizado focado na educação sustentável pode gerar cidadãos-planetários, preocupados com os problemas ambientais e com suas devidas soluções, em escala global.

A sustentabilidade

 Considera princípios como: satisfação das necessidades fundamentais, participação popular, cuidados com os bens naturais, qualidade de vida, solidariedade, alteridade, ética, espiritualidade, etc.
      Leva em conta o todo e as partes, o contexto e o complexo, a interdependência de extensão planetária e a correlação, o pensar e agir localmente, sem desconsiderar o global (Figueiredo,2007, p. 75).
      Considera a afetividade, a participação, a superação de dicotomias, a satisfação das necessidades essenciais, o cuidado com os recursos naturais, a qualidade de vida, a cidadania, a preocupação com as gerações futuras, conosco, a comunidade, a sociedade e o mundo (Lima, Matos e Bonfim,2009, p.50).
      “Depende de um conjunto de valores, internalizados pelo cidadão, e que orienta seu comportamento para uma reação menos agressiva, um ser humano mais amoroso, sensível, cuidadoso e gentil para com a terra, para com a sua espécie e as demais espécies vivas” (Ribeiro 2006, p. 63).

Metodologia

O projeto envolverá toda a comunidade escolar.  Será realizado em diferentes escalas e durará o ano todo. Entre elas estão:
      Seminários e oficinas sobre educação ambiental para os estudantes
      Criação de uma praça ecológica
      Arborização e jardinagem da escola
       Reciclagem de material: papel, garrafas, sobra de alimentos etc.
      Divulgação dos trabalhos na comunidade escolar
      Desenvolver práticas de uso sustentável da água, energia, patrimônio escolar etc.
      Parceria com a empresa: JCPM Shopping Rio Mar para que esta realize melhorias na estrutura física e espaços como: a Eco-sala, o bosque, a construção de canteiros para plantio de legumes, verduras e plantas medicinais.
      Parceria com a empresa Santos Oliveira e Cia Ltda. que fornece a alimentação para à escola, possibilitando o reaproveitamento das sobras de alimentos para compostagem.
      Criação de um Blog para a divulgação das práticas sustentáveis na escola

Resultados

Objetiva-se que os estudantes desenvolvam uma consciência mais sustentável na escola, na comunidade e no mundo. Que compreendam a importância da separação do lixo, da reciclagem, do reaproveitamento do lixo orgânico no uso agrícola, da agricultura orgânica, da arborização, da redução do consumo de água e energia, do não desperdício de alimento, da convivência pacífica, respeitosa e tolerante afim de criar hábitos sustentáveis para um mundo melhor.
                       
Considerações finais

Experiências pedagógicas sustentáveis como as que propomos neste projeto criam um campo fértil para transformações efetivas na escola, na comunidade e no mundo. As práticas levadas a cabo pela escola ilustram algumas possibilidades de práticas educativas que são efetivamente sustentáveis. É imperativo que os estudantes, sobretudo, devam ser protagonistas para o que ansiamos para o agora e o futuro no que concerne a uma relação mais ética e humanizada do ser humano consigo, com o outro e com a natureza.

Referências

BOFF, L. Sustentabilidade e cuidado: um caminho a seguir. Disponível em http://pousio.blogspot.com/2011/06/leonardo-boff-sustentabilidade-e.html.
FIGUEIREDO, João B. A. Educação ambiental dialógica: as contribuições de Paulo Freire e a cultura sertaneja nordestina. Fortaleza: Edições UFC, 2007.
GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra. São Paulo. Ed. Peirópolis, 2000.
LIMA, Deyseane M. A; MATOS, Kelma S. A. L; BONFIM, Zulmira A. C. Educação ambiental e psicologia ambiental: discussões sobre a sustentabilidade. In: MATOS, Kelma S. A. L. Educação ambiental e sustentabilidade. Foraleza: Edições UFC, 2009.
PARAMENTROS CURRICULARES NASCIONAIS. Tema transversal Meio Ambiente. Brasília: MEC/SEF, 1997.
RIBEIRO, Maurício A. Caminhos para uma cultura de paz com a natureza. In: MAGALÃES, Dulce (Org.). A paz como caminho. Rio de janeiro: Qualitymark, 2006.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Colhemos o que plantamos


Estudantes da Maria José Medeiros no Jardim da Escola

Três equipes da Escola participaram da Olimpíada Nacional de História do Brasil
Promovida pela Universidade de Campinas - UNICAMP



Esquerda para direita:  Rafael, Gustavo e Tiago
Esquerda para direita: Jonathan, Igor e Nicolas

Esquerda para direita: Matheus, Gabriel e Victor


quarta-feira, 4 de setembro de 2013

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E FORMAÇÃO HUMANA: TECENDO VALORES PARA UM MUNDO SUSTENTÁVEL

                                                                Paulo Sérgio Barros[1]


Cidadão do mundo eu sou. Estrangeiro eu não vou ser.

(Janela para o mundo, Milton Nascimento).

Introdução

          A questão ambiental é uma temática considerada historicamente nova, é complexa e multidimensional e por isso tem sido objeto de reflexão de diferentes esferas do saber. Também é um fenômeno da nossa cotidianidade, através de constantes problemas ambientais que se constituem em ameaças culturais, materiais, riscos à qualidade de vida e à biodiversidade do planeta, causando sérias implicações de ordem social e econômica à humanidade. Portanto, tem sido um assunto pertinente ao âmbito  educacional.
No percurso deste texto discutimos a Educação Ambiental – EA sob a ótica da sustentabilidade. Como alguns autores, que refletem sobre esses dois conceitos, propõem uma percepção e consciência mais abrangente e efetiva de perceber e tratar não somente o ecológico, mas todas as questões que envolvem a nossa complexa e variada relação com o meio e com o outro. Como a EA pode ser uma prática efetiva para constituirmos um mundo mais equânime, justo, pacífico, solidário, de amor e respeito pelo outro, pela natureza e pelo planeta em sua dimensão maior.
O artigo também mostra práticas pedagógicas levadas a cabo na EEEP Maria José Medeiros, uma instituição de ensino médio pública em Fortaleza, que dialogam com os conceitos de EA, Sustentabilidade e a metodologia do Programa Vivendo Valores na Educação – VIVE[2].
O Modelo teórico-metodológico do VIVE está focalizado na criação de uma atmosfera de valores em ambientes educativos. As atividades do programa partem do princípio de experiências éticas de cada indivíduo consigo mesmo, com o outro e com o meio na sua acepção planetária.

 Educação Ambiental e Sustentabilidade

            Figueiredo (2007, p. 74) lembra-nos que o conceito de desenvolvimento sustentável reflete o discurso oficial, uma forma de desenvolvimento que busca compartilhar “objetivos distintos, de modo que nenhum deles seja prejudicado ou prejudicasse o objetivo de outro, permanecendo nos limites da capacidade de suporte do planeta, de modo a não comprometer a integridade dos sistemas que mantêm a vida na terra no presente, nem para as gerações futuras”. Tal modelo acrescenta o autor, é uma “proposta a partir de um modelo civilizatório capitalista que prioriza o consumo e o lucro, centrando suas atenções no processo acumulador, gerador de pobreza e miséria em escala mundial”.
            Ao propor um conceito crítico de sustentabilidade, alguns autores explicitam a amplitude e a complexidade do termo. Eles consideram uma gama ampla de princípios como: satisfação das necessidades fundamentais, participação popular, cuidados com os bens naturais, qualidade de vida, solidariedade, alteridade, ética, espiritualidade, etc. Silva e Rodrigues (2009, p. 116 e 117) ressaltam que é preciso “assumir o meio ambiente como um fator estratégico no processo de desenvolvimento, como um elemento estrutural da civilização, porque dele provêm as condições básicas de subsistência que a humanidade exige para existir e aperfeiçoar-se”.
            Para Figueiredo (2007, p. 75), o todo e as partes, o contexto e o complexo, a interdependência de extensão planetária e a correlação, o pensar e agir localmente, sem desconsiderar o global, são aspectos que estão imbuídos na noção de sustentabilidade.
            Na mesma linha de raciocínio, Lima, Matos e Bonfim (2009, p.50) consideram a “afetividade, a participação, a superação de dicotomias, a satisfação das necessidades essenciais, o cuidado com os recursos naturais, a qualidade de vida, a cidadania, a preocupação com as gerações futuras, conosco, a comunidade, a sociedade e o mundo”. Portanto, a ideia de sustentabilidade opõe-se à postura utilitarista do homem face ao ambiente. Ela também inclui a dimensão ético-espiritual. Ribeiro (2006, p. 63) comenta que o desenvolvimento sustentável “depende de um conjunto de valores, internalizados pelo cidadão, e que orienta seu comportamento para uma reação menos agressiva, um ser humano mais amoroso, sensível, cuidadoso e gentil para com a terra, para com a sua espécie e as demais espécies vivas”.
            Ao pensarmos na relação entre EA e Sustentabilidade somos remetidos à questão proposta por Carvalho (2001): existe uma Educação Ambiental ou várias? Parece-nos mais instigante estabelecer um diálogo com a variedade e a dimensão das questões que diferentes autores propõem no intuito de formular um conceito coerente com as problematizações que a contemporaneidade do termo nos impõe (BARROS, 2010a, p. 201).
Carvalho opta por uma Educação Ambiental Popular, cujo objetivo é formar “sujeitos políticos capazes de agir criticamente na sociedade”. Ela não prioriza um determinado grupo, mas todos os sujeitos históricos inseridos numa conjuntura sociopolítica determinada, cujas ações políticas resultam de um universo de valores construídos social e historicamente. A transformação das relações com o meio ambiente está no bojo de um projeto de construção de um novo ethos social, baseado em valores libertários, democráticos e solidários (CARVALHO, 2001, p. 46 - 47).
Na mesma perspectiva, Reigota entende que a EA “deve ser entendida como a educação política, no sentido de que ela reivindica e prepara os cidadãos para exigir justiça social, cidadania social e planetária, autogestão e ética nas relações sociais e com a natureza”. A EA deve orientar-se para a comunidade e “procurar incentivar o indivíduo a participar ativamente da resolução dos problemas no seu contexto de realidades específicas”. Contudo, a EA não assume essa perspectiva localizada, pois tem “consciência e conhecimento da problemática global e atuando na sua comunidade, haverá uma mudança no sistema, que se não é de resultados imediatos, visíveis, também não será sem efeitos concretos” (REIGOTA, 2004, p. 10-12).
 Este autor também afirma que EA deve “estar presente em todas as disciplinas quando analisa temas que permitem enfocar as relações entre a humanidade e o meio natural e as relações sociais sem deixar de lado as suas especificidades”. E que não deve transmitir “só o conhecimento científico, mas todo tipo de conhecimento que permita uma melhor atuação frente aos problemas ambientais” (REIGOTA, 2004, p. 25-32).
Figueiredo, em alguns aspectos, aproxima-se das concepções dos demais autores citados. O que o autor denomina de Educação Ambiental Crítica e Dialógica, deixa claro sua opção pelo “movimento popular como sujeito central das ações”. Contudo, amplia o conceito quando considera uma pluralidade de facetas nas relações entre os homens e destes com a natureza. Ele observa o indivíduo de um ponto de vista social, econômico, político, ético, espiritual etc. Ele afirma que pensarmos na EA com o objetivo de expandir a consciência crítica “implica em abordagens de problemática sócio-ambiental que interrrelacione os múltiplos aspectos que constituem o real, ou seja: sociais, econômicos, políticos, culturais, científicos, tecnológicos, ecológicos, jurídicos, éticos, espirituais etc. (FIGUEIREDO, 2007, p.70).
Segundo esse autor, a EA age em um panorama de crise mais profunda, do qual faz parte a crise ambiental que envolve valores e perspectivas, percepções e moralidade, estilos de vida e padrões de consumo, projetos de desenvolvimento pessoais e sociais. A Educação Ambiental Crítica e Dialógica capacita os seres humanos para a “compreensão e resolução de questões ambientais, a partir de um embasamento estruturado pela perspectiva eco-relacional centrada em uma ecopraxis, prendendo a sustentabilidade em bases que consideram o movimento popular como sujeito central das ações” (FIGUEIREDO, 2007, p. 86).
            Layrargues esclarece que a EA é muito mais do que “educação ecológica” e o estudo dos sistemas ecológicos. Ela abrange também a compreensão da estrutura e funcionamento dos sistemas sociais e a interação material e simbólica entre os dois sistemas. Por isso, a EA assume uma percepção complexa e contextualizada e assim “se ouve falar da construção de sociedades sustentáveis, aquelas que são ao mesmo tempo ecologicamente prudentes, economicamente viáveis, socialmente justas, culturalmente diversas, territorialmente suficientes, politicamente atuantes” (LAYRARGUES, 2009, p. 26).
            Acrescenta ainda o autor que EA com compromisso social significa “reestruturar a compreensão de educação ambiental para estabelecer a conexão entre justiça ambiental, desigualdade e transformação social”. Nesse sentido, “justiça e desigualdade ambiental despontam como conceitos centrais para a educação ambiental como compromisso social”. Os dois aspectos mostram com clareza a conexão que há entre as questões sociais e ambientais (LAYRARGUES, 2009, p. 27).
            A dimensão ético-espiritual apresentada por Ribeiro e também ressaltada em menor escala por Figueiredo e Reigota, abre perspectivas para entender a EA também como uma Educação em Valores Humanos. Na EA há espaço para “o altruísmo, a solidariedade, a tolerância para com a diversidade cultural; o sentido da justiça; a busca da paz pessoal, social e com a natureza; bem como o desejo de servir ou a busca da verdade tendem a gerar ações com menores impactos naturais” (RIBEIRO, 2006, p. 63).
                                        Devemos salientar que a EA deve assumir um olhar crítico, dialógico e afetivo para abranger a complexidade do termo. Mais do que preservar e cuidar dos recursos naturais, a EA é uma forma de superação das diferenças sociais e da crise ambiental a partir de um padrão de valores éticos que vai de encontro ao individualismo, ao consumismo, Além de criar interrelações que constituirão uma sociedade justa, equitativa, solidária e pacífica. Uma sociedade na qual homem e natureza não sejam mais percebidos separadamente.  

O VIVE e as possibilidades de educação ambiental

 A partir das reflexões feitas acerca dos conceitos de EA e Sustentabilidade, é possível fazer uma relação destes com a proposta de educação em valores humanos do VIVE. Esse programa foi pensado para educação em valores humanos, temática de importância seminal para a EA, cujo conceito aqui discutido considera uma pluralidade de relações entre os homens e destes com a natureza. Considerando-se também os aspectos éticos e espirituais.
A perspectiva ético-espiritual da EA propõe, como já o dissemos acima, possibilidades para uma educação humanística, fundamentada em valores espirituais e universais próprios de cada ser, cultura e sociedade. Pensar a EA nesse sentido é abrir portas para a paz, a solidariedade, a tolerância, a cooperação, a equidade e justiça sociais; o respeito pela diversidade cultural e de vida, o desejo de servir ao semelhante e à natureza com nossos valores, conhecimentos e habilidades adquiridas.
Nessa senda, há um diálogo frutífero entre a EA e a proposta do VIVE, o qual não concebe a vivência de valores humanos exclusivamente na seara da espiritualidade, ou seja, no plano dos nossos desejos, sentimentos, comunicação, ações e relacionamentos conosco, com o outro e com o meio. Está intrínseca a dimensão social, cultural, histórica, biológica, emocional do ser humano em seu suporte conceitual e na metodologia das atividades com valores em seu material didático (TILLMAN, 2003 e 2004).
O VIVE fundamenta-se na criação de uma atmosfera de valores, ou seja, a necessidade que os estudantes têm de desenvolver habilidades ligadas ao seu desenvolvimento cognitivo, emocional e espiritual, sendo capazes de se comprometerem, ao ponto de levarem consigo esses valores em suas vidas (TILLMAN, 2010, p. 01).
        Isso implica em desenvolver uma percepção mais ampla, ou seja, a atmosfera como um ambiente que envolve as relações intrapessoais e interpessoais, com o meio ecológico, com a diversidade cultural. Significa a percepção das injustiças sociais, da necessidade de equidade e paz entre pessoas, grupos sociais e nações, de um compromisso ético com as transformações pertinentes ao âmbito local e global.
Para Tillman e Colomina (2003, p. 80), um ambiente permeado por valores é afetivo e positivo para o desenvolvimento e a aprendizagem. Desperta, nos estudantes, sentimentos de serem amados, respeitados, ouvidos, valorizados e seguros, além de desenvolver habilidades pessoais, sociais e emocionais. Em contrapartida, quando a motivação e o controle advêm de sentimentos como o medo, a vergonha e a punição, os estudantes passam a se sentir inadequados, medrosos, magoados, envergonhados e inseguros. São fatores que marginalizam, diminuem seu interesse pela aprendizagem, conduzindo-os a uma série de relacionamentos negativos, que fazem com que se tornem deprimidos, ou entrem em um ciclo de culpa, raiva, vingança e possível violência.  O VIVE oferece meios para examinar os ciclos de inadequação, mágoa, medo, resistência, culpa e raiva, a fim de eliminá-los e de melhorar a qualidade do ensino, promovendo o desenvolvimento das capacidades emocionais e sociais positivas do estudante por meio da familiaridade com os valores universais.
As atividades VIVE são um dos elementos para criar essa atmosfera. Elas têm estrutura simples, metodologia diversificada, efetiva, vivencial e interativa e começam sempre com um estímulo que pode ser uma autorreflexão, valores nas experiências socioculturais dos estudantes e no currículo ou recebimento de informações através de histórias, literatura, pontos para reflexão etc.
A metodologia desenvolve uma gama de habilidades pessoais, sociais e emocionais que possibilitam incutir valores na vida, de maneira que os estudantes possam experimentar os sentimentos positivos de suas qualidades, entenderem os efeitos de seus comportamentos e escolhas em relação ao seu próprio bem-estar e serem capazes de desenvolver a habilidade de tomar decisões socialmente conscientes (TILLMAN, 2002, p. 8-9).
Os estudantes são estimulados a construir o entendimento efetivo do papel da mágoa, do medo, da raiva, e suas consequências em seus relacionamentos com os outros. Muitas atividades oferecem técnicas de resolução de conflitos, comunicação positiva, jogos cooperativos, além da execução de projetos em cooperação, que ajudam a construir habilidades de comunicação interpessoal (TILLMAN, 2002, p. 10).
        A reflexão sobre os fatos sociais, o meio ambiente e o mundo em sua dimensão ampla, estimula os estudantes a vivenciarem valores enquanto agem na escola e na comunidade. Nas unidades sobre respeito, paz  e simplicidade, os estudantes observam suas próprias qualidades, desenvolvem o respeito pelos outros e pela natureza, a alteridade, o conceito e percepção de diversidade cultural, sustentabilidade, justiça social  e cultura de paz. Os valores da tolerância, respeito e união aumentam o grau de tolerância, respeito e apreço pela alteridade. Por meio das atividades sobre os valores honestidade e liberdade, identificam os efeitos da corrupção na sociedade e desenvolvem a motivação com relação à justiça e responsabilidade social (BARROS, 2009a).
Ao refletirem sobre os fatos sociais, o meio ambiente e o mundo em sua dimensão ampla, os estudantes pensam e vivenciam valores em seu contexto sociocultural, sem perder de vista a perspectiva planetária. As atividades despertam em si o desejo de serem capazes de contribuir com sua comunidade, a sociedade e o mundo, entendendo as implicações práticas dos valores nos relacionamentos numa perspectiva global.
            A proposta do VIVE compreende a educação de crianças, jovens e adultos como um processo constante, consistente e cotidiano. Ressalta uma consciência e comportamentos positivos em relação ao meio ambiente local, comunitário, sem perder de vista a percepção global. O ser humano é espiritual, social, cultural, biológico, etc. Todas essas dimensões constituem o todo do que pensamos, sentimos, agimos e nos relacionamos. O Programa advoga que a vivência do espiritual (nossos valores) nos conduz a uma relação de respeito, paz, cooperação e amor incondicional com a diversidade de seres e de culturas presentes na nossa casa e família global.
        Mendonça (2009, p. 67-69), ao analisar o VIVE inseri-o na perspectiva da filosofia do diálogo e afirma ser um programa em cujo bojo está um “método concreto para a construção de uma cultura de paz”, uma educação para o diálogo que reflete criticamente sobre a responsabilidade ética presente nas relações humanas. O VIVE, acrescenta, “contém possibilidades ilimitadas no sentido de formar e fazer descobrir e/ou redescobrir, por parte dos professores e alunos, o sentido da vida, o qual necessariamente se desloca para o amor”.
Após apresentarmos esse breve panorama da proposta do VIVE, entendemos que a humanização das práticas educativas é uma atitude seminal para a construção de um saber ambiental e a formulação de um conceito de EA. A valorização da dimensão afetiva do indivíduo, acentuada pelo VIVE, certamente tem uma grande contribuição a dar para o aprofundamento da questão.

Experiências de EA sustentável

            A experiência com EA, na EEEP Maria José Medeiros, entre 1995 e 2010 (período que trabalhamos na instituição), foram ações isoladas, levadas a cabo por educadores que demonstravam interesses por questões ambientais e careciam de referências teóricas e metodológicas coerentes com o entendimento de EA propostos neste texto. Tratavam-se de práticas pedagógicas fundamentadas em uma visão superficial de sustentabilidade, restritas ao preservacionismo ecológico e do ambiente escolar e com poucas ações efetivas, quer fossem na escola ou nas comunidades em seu entorno.
            Algumas iniciativas, contudo, são dignas de nota. A primeira delas diz respeito a um grupo pequeno de educadores que vinha desenvolvendo atividades com a metodologia do VIVE que, como vimos acima, tem, em seu bojo, uma proposta de educação em valores humanos com estreitos liames com a EA aqui discutida. Outra experiência que deve ser mencionada foram as três Conferências Nacionais Infanto-juvenis para o Meio Ambiente, promovidas pelos Ministérios da Educação e do Meio Ambiente nos anos de 2004, 2006 e 2008. Elas preencheram um pouco da deficiência metodológica e conceitual acerca da EA. Contudo, após os eventos nenhum projeto prático foi efetivado na Escola e/ou comunidade.
            A partir do ano de 2010, a Escola adota o ensino médio profissionalizante. Com nove aulas diárias, o currículo contém, ademais das disciplinas básicas para o ensino médio, as disciplinas específicas profissionalizantes. Para três delas: Temáticas, Práticas e Vivências; Formação Cidadã e Tecnologia Empresarial Socioeducativa, temáticas relacionadas à EA e a valores humanos estão sendo trabalhadas.
O primeiro passo foi os educadores refletirem sobre o conceito de EA, para que não mais fôssemos pautados em uma concepção meramente ecológica ou ético-afetiva de EA, mas entender a sua complexidade, abrangência e contextualidade. Optou-se também por uma prática pedagógica interdisciplinar e transdisciplinar, a ser empreendida depois de estudo, planejamento, experiências que advenham de professores e estudantes, sem desconsiderar as vivências de outros sujeitos que compõem a comunidade escolar.
            Nessa perspectiva, a EA na escola, a partir do ano de 2010, está a ser pensada nos pontos que se seguem:
- Estudo e reflexão sobre os conceitos de sustentabilidade e Educação ambiental.
- O projeto Educação ambiental e qualidade de vida. Pensado a partir de um conceito de EA crítico, pondo os estudantes como protagonistas para ações na escola e na comunidade, envolvendo práticas de formação ética, convívio harmonioso com a diversidade e uso sustentável de espaços da escola (jardim, bosque, horta), alimentação, água, energia, material didático, etc.
- Enfatizar o estudo do meio onde vive o estudante, procurando identificar os problemas comunitários e as contribuições da ciência, os conhecimentos necessários e as possibilidades concretas para as soluções deles (REIGOTA, 2004, p. 26-27).
- Valores para um mundo sustentável – Oficinas e vivências de valores a partir da proposta do Programa VIVE.
- Alteridade – Sobretudo com a temática História e Cultura africana, Afro-brasileira e Indígena, proposta pelo MEC, conforme lei 11.645 de 10/03/2008.
- Oficinas envolvendo os conteúdos curriculares, as questões pertinentes às comunidades e ao planeta e o conceito de EA.
- Mapeamento de espaços ecológicos e problemas ambientais na comunidade e a reflexão sobre formas práticas de agir junto à comunidade e órgãos oficiais no sentido de resolvê-los.
- Visita a ambientes ecológicos, históricos e artísticos na região metropolitana de Fortaleza.
- Participação de estudantes da Escola no Prêmio Jovem Cientista 2010 - iniciativa do Conselho Nacional de desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq - visando estimular grupos de estudantes à pesquisa e a propor alternativas para os problemas comunitários, nacionais e planetários.
- Publicação de produções dos estudantes em meios impressos (BARROS, 2010c) e eletrônicos (http://valores-educacao.blogspot.com).

Conclusão

Reconhecemos que não é fácil nem simples trabalhar com EA sustentável, ou seja, crítica e em sintonia com uma formação humana, no âmbito escolar. Primeiramente porque a abordagem e a complexidade do conceito, desconhecido por parte considerável dos educadores, faz com que as iniciativas de EA sejam superficiais, pouco práticas, muitas vezes descontextualizadas da realidade escolar e comunitária.
Contudo, as experiências pedagógicas acumuladas e a perspectiva de uma EA sustentável no currículo e vivências escolares são sementes em um campo fértil. Os relatos supracitados ilustram algumas possibilidades que a escola pode constituir, isto é, práticas educativas que consideram a pluralidade de dimensões do humano, e um ambiente de relações mais afetivas entre os sujeitos que o fazem. É imperativo que os estudantes, sobretudo, devam ser protagonistas para o que ansiamos para o agora e o futuro no que concerne a uma relação mais ética e humanizada do ser humano consigo e com a natureza.
Convém ressaltar que o desejo de educadores comprometidos e estudantes entusiasmados com essa perspectiva de educação é essencial, mas não é o bastante. É importante que o desejo e a atitude partam da macro-estrutura do sistema educacional no âmbito nacional e local. Ansiamos que os nossos currículos continuem a ser revisados e apontem, reflitam e discutam as várias possibilidades para que a formação das nossas crianças e jovens não seja centrada exclusivamente no racional, mas em equilíbrio com a emoção, a intuição, a espiritualidade, com todas as dimensões da ilimitada capacidade humana. Esta é a senda para as demandas pessoais, sociais e planetárias.

Referências

BARROS. Paulo Sérgio.Vivendo Valores na Educação: a experiência da dimensão afetiva do indivíduo na sala de aula. In: Revista E.T.C Educação, Tecnologia e Cultura. Salvador, ano 6, n. 5, p. 7-11,   jan/dez. 2008.     

_____________. Educação, cidadania e espiritualidade: uma experiência no cotidiano da sala de aula. In: BARROS, Paulo S; NONATO JÚNIOR, R. (Orgs.). Educação e valores humanos no Brasil: trajetórias, caminhos e registros do Programa Vivendo Valores na Educação. São Paulo: Editora Brahma Kumaris, 2009a.

_____________. Educação e cultura para a paz: uma experiência na Escola Maria José Medeiros em Fortaleza. In: SANTOS. Francisco Kennedy Silva dos (Org.). II Colóquio Abrindo trilhas para os Saberes: Formação Humana, Cultura, Diversidade. Fortaleza: SEDUC, 2009b.           

_____________. Valores para um mundo sustentável: o Programa Vivendo Valores na Educação e a Educação Ambiental. In: MATOS, Kelma S. L. Educação ambiental e sustentabilidade II (Org.). Fortaleza: Edições UFC, 2010a.

_____________. Atmosfera de Valores: o princípio do Programa Vivendo Valores na Educação. IN: MATOS, Kelma S. L.; NONATO JÙNIOR, Raimundo (Orgs.). Cultura de Paz, ética e espiritualidade. Fortaleza: Edições UFC, 2010b.

_____________ (Org.). Poeticidade: valores, poesia e outros sentimentos. Fortaleza: SEDUC, 2010.

CARVALHO, Isabel C. M. Qual educação ambiental? Elementos para um debate sobre educação ambiental e extensão rural. In: Agroecologia e desenvolvimento rural sustentável. Porto Alegre, v. 2, n. 2, p. 43-51, abr./jun. 2001.

FIGUEIREDO, João B. A. Educação ambiental dialógica: as contribuições de Paulo Freire e a cultura sertaneja nordestina. Fortaleza: Edições UFC, 2007.

LAYARGUES, Philippe P. Educação ambiental com compromisso social: o desafio da superação das desigualdades. In: LAYARGUES, P. P; LOUREIRO, C. F. B.; CASTRO, R. S. de. Repensar a educação ambiental: um olhar crítico. São Paulo: Cortez, 2009.

LIMA, Deyseane M. A; MATOS, Kelma S. A. L; BONFIM, Zulmira A. C. Educação ambiental e psicologia ambiental: discussões sobre a sustentabilidade. In: MATOS, Kelma S. A. L. Educação ambiental e sustentabilidade. Foraleza: Edições UFC, 2009.

MARTINEZ, Paulo H. História ambiental no Brasil: pesquisa e ensino. São Paulo: Cortez, 2006.

MENDONÇA, Kátia. Educação em valores: caminho para a dialogia e para uma cultura de paz. In: BARROS, Paulo S; NONATO JÚNIOR, R. (Orgs.). Educação e valores humanos no Brasil: trajetórias, caminhos e registros do Programa Vivendo Valores na Educação. São Paulo: Editora Brahma Kumaris, 2009.

REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. São Paulo: Brasiliense, 2004.

RIBEIRO, Maurício A. Caminhos para uma cultura de paz com a natureza. In: MAGALÃES, Dulce (Org.). A paz como caminho. Rio de janeiro: Qualitymark, 2006.

SILVA, Edson V. da; RODRIGUEZ, José M. M. Educação ambiental para o desenvolvimento sustentável: condições atuais, desafios e perspectivas. In: MATOS, Kelma S. A. L. Educação ambiental e sustentabilidade. Foraleza: Edições UFC, 2009.

TILLMAN, Diane; COLOMINA, Pilar. Q. LVEP Educator Training Guide. New Delhi: Sterling Publishers, 2003.

TILLMAN, Diane. Com os nossos corações: a necessidade da educação em valores. In: BARROS, Paulo S; NONATO JÚNIOR, R. (Orgs.). Educação e valores humanos no Brasil: trajetórias, caminhos e registros do Programa Vivendo Valores na Educação. São Paulo: Editora Brahma Kumaris, 2009.  

_________. Atividades com valores para jovens. São Paulo: Confluência, 2004.

_________.Theorical Background and Support for Living Values: An Educational Program. Disponível em: <http://www.livingvalues.net/pdf/lvTheoricalBackgoundandSupport.pdf>. Acesso em: 18 set. 2010.         





[1] Licenciado e Bacharel em História pela Universidade Federal do Ceará, Mestre em História pela Universidade Federal de Pernambuco, Coordenador do Programa Vivendo Valores na Educação para o Norte e Nordeste do Brasil, professor da Secretaria de Educação do Estado do Ceará e da Organização Internacional Brahma Kumaris. E-mail: paulosbarros@ymail.com.
[2] Este programa é coordenado pela Association for Living Values International – ALIVE, apoiado pela UNESCO e por uma variedade de organizações, instituições e indivíduos em mais de 80 países. Faz parte do movimento global por uma cultura de paz na estrutura da Década por uma Cultura de Paz e Não-Violência para as Crianças do Mundo, das Nações Unidas (2000-2010).